segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Posted by Ana Ingrid on 19:33 No comments
Guarda com toda a diligência o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida. Provérbios 4:23

É inegável o poder dos meios de comunicação para utilizar a informação e o conhecimento tanto com objetivos nobres como educar, conscientizar e formar opinião, como também com objetivos não tão nobres, como manipular o seu público alvo no sentido de incutir valores culturais, formar e modificar imagens de instituições e indivíduos, criar e destruir hábitos de consumo. Neste sentido, a mídia é verdadeiramente um agente social poderoso, em função da credibilidade, da aceitação e da autoridade com que alcança a maioria dos lares, sobretudo nas regiões urbanas. Por esse motivo, ela já foi considerada como o quarto poder social.






Por refletir a ideologia socialmente dominante; que hoje não é mais ditada pelos donos do capital, mas pelos donos do conhecimento tecnológico, a mídia secular tende a expressar de forma imediata quaisquer mudanças ocorridas nesta base ideológica, sejam elas de cunho científico, econômico ou cultural. Esta ideologia é traduzida no processo de veiculação para uma linguagem adequada ao seu público alvo, quer de forma direta, através da informação jornalística, quer de forma indireta, através da sua inserção em roteiros de programas de televisão como humorísticos e telenovelas. Os  costumes de uma sociedade refletem sem dúvida os seus valores filosóficos, religiosos e morais.
De todos os meios de comunicação de massa, o mais poderoso é sem dúvida a televisão. As famílias modernas das classes de baixa a média renda, têm na televisão muitas vezes a sua única forma de entretenimento. Passam diante da televisão um tempo significativo de suas vidas; recebendo de forma passiva e alienada, diariamente nesse processo, uma enxurrada de informação. Esta informação é altamente seletiva e manipulativa e impõe um padrão de vida e felicidade a ser alcançado, com objetivos e ideais muitas vezes de realização naturalmente inviável ou indesejada, mas tornados possíveis e necessários por esse veículo de comunicação.
A violência, a miséria, a prostituição e o grotesco, são mazelas que sempre existiram, mas se acham extensivamente disseminadas na sociedade pós-moderna. Não são somente toleradas, mas também economicamente exploradas, de forma aberta e intensiva. Em nossa cultura atual, as mazelas sociais são normalmente transformadas em objeto de consumo, por um processo mórbido que primeiro banaliza a realidade, depois a glamoriza e em seguida a transforma em produtos comercializados através das mídias artística e de comunicação. Um exemplo emblemático e recente disto foi a elevação em 2009, pelo governo do Rio de Janeiro, dos chamados bailes funk, à categoria de cultura popular, proibindo a repressão policial até então praticada. Estes bailes, que como é de conhecimento geral, fazem apologia à prostituição, ao tráfico de drogas e à pedofilia, são agora incensados como a mais legítima forma de manifestação cultural de periferia.
O formato dos telejornais, intencionalmente ou não, impede a reflexão sobre o conteúdo das notícias divulgadas, evitando assim a formação de um senso crítico profundo e consequente pelo telespectador.  Dessa forma, a capacidade de mobilização do público desta mídia torna-se superficial e limitada a simples expressões de opiniões esparsas que não produzem nenhuma ação efetiva relacionada aos problemas apresentados. Os programas de entretenimento, ao contrário, são os que recebem maior profundidade e tempo disponível na grade de programação. De todos os programas veiculados pela televisão entretanto, a telenovela  e seus congêneres, como os soap operas americanos, são sem dúvida os de maior poder de influência, e talvez menos nocivos apenas que os chamados reality shows.
A primeira telenovela da televisão brasileira foi ao ar em 1951, na Rede Tupi, pouco mais de um ano após a primeira transmissão desta midia no Brasil. Baseada nas radionovelas, a teledramaturgia deste período se caracterizava pelo estilo folhetinesco. Como programação diária ela entrou no cotidiano brasileiro em 1963 e já em 1964, tornou-se o programa de maior audiência, com O Direito de Nascer, também da Rede Tupi. As emissoras descobriram então o potencial comercial do gênero e passaram a investir maciçamento em instalações e equipamentos. Até o final dos anos 60 entretanto a telenovela não era uma representação da realidade brasileira, e inspirava-se nos melodramas mexicanos, cubanos e argentinos.
A telenovela assumiu um estilo brasileiro a partir da produção Beto Rockfeller, de 1968, da TV Tupi. Nesta telenovela, o personagem principal encarnava um malandro brasileiro, inteligente, criativo e amoral. Esta telenovela inaugurou uma fórmula que depois se tornaria popular, de que é sempre possível a ascenção social de pessoas de uma classe social humilde, através do relacionamento com pessoas de classes mais abastadas. Beto Rockfeller foi o marco que associou a telenovela à modernização econômica e cultural do Brasil, passando a se tornar a principal vitrine de novos modelos de comportamento social, da mesma forma que um desfile de modas é uma vitrine das tendências mais atuais da moda em geral.
Os roteiros de telenovelas normalmente associam os novos modelos de comportamento social apresentados a personagens socialmente bem sucedidos, cultos e glamurosos, reforçando assim a mensagem de que os papéis que eles representam são intrinsecamente positivos e portanto, modelos a serem imitados. Expressar um comportamento contrário a estes modelos significa, da mesma forma que usar uma roupa que está em desacordo com as tendências dos figurinos atuais, correr o risco de ser tachado de alienado, retrógrado, conservador e moralista. Hoje, a telenovela é responsável pela sustentação econômica e pela maior parte dos lucros das emissoras de televisão. A identificação garante o sucesso do gênero junto ao público, cuja vida está sendo representada.
Nas telenovelas, o comportamento humano é tratado de forma absolutamente amoral, sendo recriminados apenas os comportamentos considerados antisociaisreflete o que Zygmunt Bauman chama de modernidade líquida, um tempo em que as transformações de identidade são absorvidas como fases de um imenso oceano cultural. É válido fazer tudo aquilo que traz mais sucesso e o que proporciona mais prazer e conforto para cada um.
Em seu trabalho de doutorado, o mestre em educação Marcus Tavares categorizou os relacionamentos das telenovelas seguindo os perfis de seus personagens, abrangendo as treze produções que a Rede Globo exibiu entre 2000 a 2008 .




Marcos identificou neste estudo, trinta e dois casos de "mais de um casamento ou relação estável", vinte e nove casos de "relacionamentos curtos e descartáveis, com filhos fora do casamento", onze casos de relacionamento estável ou extraconjugal com traição masculina, onze casos de relacionamento amoroso entre membros de uma mesma família, como primos e cunhados  e treze casos de prostituição por prazer ou "necessidade" financeira.

Os produtores e autores de telenovelas costumam se isentar de qualquer responsabilidade pela influência e formação de paradigmas comportamentais em seu público, afirmando que são meros cronistas sociais, ou sejam, mostram apenas a realidade social em que vivemos. Esta postura entretanto esconde, ou negligencia o fato de que os meios de comunicação em geral e em especial a televisão, são poderosos agentes reforçadores desta realidade que afirmam apenas retratar. A telenovela, por sua grande popularidade, talvez seja o gênero televisivo de maior potencial neste sentido, por ser um programa religiosamente assistido todos os dias por milhões de famílias. A sua influência perniciosa é maior sobretudo entre crianças, adolescentes e jovens.
Dessa forma, como agente veiculador de valores culturais, a televisão poderia agir no sentido de combater esta mesma degradação espiritual da sociedade que ela retroalimenta, recuperando os valores cristãos, caso evidentemente isto não contrariasse os interesses ideológicos sócio-econômicos que norteiam a sua programação. A televisão, como outros meios de comunicação, poderia estimular em seu público por exemplo, o senso crítico e a mobilização comunitária, em prol do bem comum. Entretanto, isto tornaria o público alvo desta mídia refratário à sua influência. A passividade do público é na verdade um elemento fundamental para a difusão e a assimilação dos valores culturais impostos pelo modelo ideológico que sustenta os meios de comunicação em geral.
Além disso, a alegação dos autores de telenovelas de que apenas representam a realidade em que vivemos é apenas uma meia-verdade, considerando-se as inúmeras distorções da realidade que são apresentadas nas tramas da teledramartugia. A seguir, aponto alguns exemplos destas distorções e fantasias:
a) As religiões em geral são inseridas nas telenovelas como temas exóticos, quando não criticadas diretamente por intolerância e preconceito em relação aos novos valores culturais. Quando tratadas seriamente, são sempre apresentadas de forma “pluralista” ou “ecumênica”, deixando claro o não reconhecimento de qualquer prevalência dos princípios cristãos, embora o cristianismo seja a religião com maior número de adeptos no país. Não há nenhuma reverência ( e nem mesmo referência) a Deus e o comportamento religioso é normalmente tratado como tacanho e bitolado, quando não abertamente ridicularizado. 




b) A super-representação de brancos em relação a negros e pardos é um exemplo gritante da maneira como, por omissão, as telenovelas contribuem para a reprodução da discriminação social. Embora constituam mais de 40% da população economicamente ativa brasileira, na história da teledramaturgia brasileira, o afro-descendente é minoria absoluta nos elencos.
c) Já em relação à realidade sócio-econômica, o que ocorre é uma sub-representação da pobreza e mesmo da miséria que ainda imperam na maior parte do país. Sobre este fato, o diretor Walter Avancini afirmou, em 2001: "A novela continua atendendo a códigos de linguagem, gostos e ambições da classe média. A classe trabalhadora é apresentada como caricata".
d) Muitas telenovelas apresentam ainda a velha fórmula que transmite a idéia fantasiosa de que é comum a ascenção social de pessoas pobres através de um relacionamento romântico com pessoas ricas, que não por acaso, são os protagonistas da história. Neste sentido, a telenovela veio a se tornar uma espécie de fábula moderna, alimentando a imaginação de jovens românticas e despertando uma admiração cada vez maior pelas pessoas de classes sociais abastadas.

A sociedade de consumo trata a informação, a produção artística e a mensagem religiosa como produtos de consumo, a serem adquiridos como tal pelos consumidores, dos quais se espera uma assimilação acrítica destes produtos e da propaganda comercial que os acompanha. O cidadão urbano de nosso tempo é bombardeado a todo instante por um volumoso conteúdo de informações e idéias, transmitido através da mídia artítistica e de comunicação, e consome este conteúdo de forma como foi condicionado, ou seja, do modo mais passivo possível. No modelo cultural estabelecido pelo domínio científico e tecnológico, as mazelas sociais são tratadas de forma a criar na sociedade uma postura de conformismo e acomodação. A responsabilidade pelos problemas sociais é assim transferida às autoridades constituídas, eximindo a sociedade civil de qualquer co-participação nesta responsabilidade.
A formação cultural desta atitude do individuo como espectador passivo da mídia artística e de comunicação contribuem para a formação no cristão, de uma atitude semelhante em relação à igreja, que ele vê apenas em sua dimensão espiritual, não percebendo que como corpo de Cristo, cabe à igreja a construção do Reino de Deus no mundo. O cristão incauto, que ainda não amadureceu ou não despertou do sono espiritual, carece de sabedoria e discernimento e se acostuma assim a ver a si mesmo apenas como estrangeiro e forasteiro no mundo, anelando a cada dia pela vinda de Cristo, que irá arrebatá-lo e levá-lo para a sua morada celestial.
Entretanto, ele se esquece de que a sua morada definitiva será neste mundo e não em outro mundo, pois é aqui que Deus construirá os novos céus e a nova terra de que falam as Escrituras. Esta atitude conformista é em sua essência anticristã, pois é Paulo que exorta cada cristão a ser "sal da terra",  ou seja, agente de transformação do mundo e a não se conformar com o mundo, mas a se transformar pela renovação de sua mente, de forma a se tornar um realizador da “boa e perfeita vontade de Deus”.
Esta condição se manifesta claramente no comportamento dos cristãos em suas igrejas, onde ao invés de assumirem sua posição como servos do corpo de Cristo; obreiros fieís capazes de renúncia e cooperação, guerreiros e atalaias alertas, comportam-se como meros assistentes de cultos, recreando a si próprios em adoração carnal e louvores e que de forma alguma agradam a Deus. Esquecem-se ou ignoram que o espírito deve ser a sentinela permanente da alma, guardando a mente e o coração de toda má influência mundana e espiritual.
Permitem que seus filhos passem horas e horas à frente da televisão e dos games eletrônicos, assimilando os valores transmitidos, em geral de forma subjacente. Entretanto, queixam-se mais tarde que estas mesmas crianças e adolescentes, se recusam a obedecê-los nas coisas mais simples e a compartilhar seus valores cristãos. Nunca me canso de repetir o dramático apelo de Paulo aos Efésios, que ecoa ainda em nosso tempo porque a nós também é dirigido:
“Desperta, tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te iluminará.Portanto, vede diligentemente como andais, não como néscios, mas como sábios, usando bem cada oportunidade, porquanto os dias são maus.” Efésios 5:14-16
Logo após estes versos, Paulo exorta os efésios a não se embriagarem com vinho, “no qual há devassidão”, mas com o Espírito, falando uns aos outros “em salmos, hinos, e cânticos espirituais, cantando e salmodiando ao Senhor”. Creio que a maioria dos cristãos já abandonou o hábito de se embriagar com vinho físico, mas ainda se embriagam de vinhos mais sutis, que entorpecem a mente e o corrompem o coração.
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